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Senador Cid Gomes é baleado ao avançar contra PMs amotinados no Ceará

Por Folha de São Paulo

19/02/2020 20h27 — em
Política



FORTALEZA, CE, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O senador Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado na tarde desta quarta-feira (19), em Sobral (a 270 km de Fortaleza), ao avançar com uma retroescavadeira contra o portão de um quartel tomado por policiais militares que fazem motim por reajuste salarial.

Segundo o ex-governador do Ceará e ex-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT), irmão de Cid, o senador levou dois tiros, mas não corre risco de morte.

O Hospital do Coração da cidade, onde o senador foi internado, disse que Cid foi vítima de ferimento por arma de fogo em região torácica. Afirmou ainda que ele apresentava boa evolução clínica, estando "lúcido e respirando sem auxílio de aparelhos".

Cid Gomes, que está licenciado do Senado desde dezembro para atuar nas eleições municipais no Ceará, dirigia a retroescavadeira e tentou investir contra o portão do batalhão tomado por PMs. O trator foi alvejado e teve os vidros estilhaçados.

Sobral é a base eleitoral de Ciro Gomes e Cid, que apoiam o governador Camilo Santana (PT) e, nacionalmente, fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Cid foi governador do estado em momento semelhante de crise com a PM, em 2012.

Pelas redes sociais, o governador Camilo Santana classificou como "inaceitável" o que chamou de "extrema violência" praticada "por um grupo de policiais mascarados, amotinados num quartel". O governador petista informou que pediu reforços ao governo federal.

​"Reforço que já havia solicitado formalmente apoio de tropas federais para o Ceará aos ministros Luiz Eduardo Ramos e Sergio Moro, para uma ação enérgica contra essas pessoas que têm agido como criminosos. Esses crimes não ficarão impunes", afirmou Camilo.

Já o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, afirmou que Cid teve uma "atitude insensata" ao tentar entrar no quartel da PM.

"[Ele] tenta invadir o batalhão com uma retroescavadeira e é alvejado com um projétil de borracha. É inacreditável que um senador da República lance mão de uma atitude insensata como essa, expondo militares e familiares a um risco desnecessário em um momento já delicado", afirmou Eduardo.

Após ser baleado, o senador foi retirado por pessoas que o acompanhavam, consciente e andando, e levado ao Hospital do Coração de Sobral. A assessoria de Cid informou que ele seria transferido para a Santa Casa de Misericórdia da cidade.

Nas redes sociais, Ciro Gomes disse que as balas não atingiram órgãos vitais "apesar de terem mirado seu peito esquerdo". "Espero serenamente, embora cheio de revolta, que as autoridades responsáveis apresentem prontamente os marginais que tentaram este homicídio bárbaro às penas da lei", afirmou.

No início da tarde, Cid Gomes avisou por meio de rede social que chegaria em Sobral para tentar negociar o fim do motim dos policiais militares. Ele pediu que a população o acompanhasse até o batalhão.

Desde a noite de terça-feira (18), PMs fazem motim contra a proposta de reestruturação salarial feita pelo governo Camilo Santana.

Em 2017, os ministros do Supremo Tribunal Federal confirmaram a proibição das paralisações de servidores que atuam na segurança pública. A regra serve para agentes das polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e do Corpo de Bombeiros, além de funcionários das áreas administrativas.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), estava reunido com o governador da Bahia, Rui Costa (PT), quando soube que Cid Gomes havia sido baleado.

Ele tentou, sem sucesso, ligar para o celular de Cid. Depois, entrou em contato com o ministro Sergio Moro (Justiça) e com o governador Camilo Santana.

"Acompanho com preocupação os desdobramentos do ocorrido com o senador Cid Gomes, na tarde desta quarta-feira (19), em Sobral, no Ceará. Entrei em contato o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e com o governador do Ceará, Camilo Santana, para obter informações e garantir a segurança do parlamentar", disse Alcolumbre em nota.

Até esta quarta, três policiais foram presos e 261 eram investigados por participarem do motim no Ceará, que foi proibido na segunda (17) pela Justiça.

Em meio aos atos, dois batalhões foram atacados por homens encapuzados, que roubaram dez viaturas em uma das unidades e esvaziaram pneus dos carros em outra.

Na segunda-feira, a Justiça havia determinado, a pedido do Ministério Público do Ceará, que agentes de segurança poderiam sofrer sanções e até serem presos por promoverem movimentos grevistas ou manifestações no estado.

Em um dos ataques, no batalhão no bairro do Papicu, em Fortaleza, cerca de dez viaturas foram levadas. Em outro, na Barra do Ceará, também na capital, os carros tiveram os pneus esvaziados.

O governo vai investigar as ações, mas o secretário da Segurança, André Costa, disse nesta quarta-feira que pode haver policiais e esposas de policiais envolvidos nas ações.

Os protestos já chegam a ao menos a sete cidades do interior do Ceará. Em Sobral, homens encapuzados, com o corpo para fora das janelas de viaturas da Polícia Militar, circularam p​elo centro da cidade nesta quarta ordenando que comerciantes fechassem as portas.

Muitos só reabriram as lojas após a chegada de policiais civis e guardas municipais, que estão patrulhando algumas cidades em razão da paralisação de parte da PM.

Desde o início de 2020, o governo de Camilo Santana e associações dos policiais e bombeiros militares negociam uma reestruturação salarial. Nesta terça-feira a proposta final foi enviada para a Assembleia Legislativa, que vai discutir o projeto e votar, mas parte da categoria não ficou satisfeita com o que foi definido.

A proposta de reestruturação salarial enviada prevê aumento de cerca de R$ 3.400 para cerca R$ 4.500 no salário dos soldados. O pagamento será feito em três parcelas (em março de cada ano) até 2022.

Inicialmente o oferecido havia sido aumento para R$ 4.200, em quatro parcelas, mas foi revisto após as associações que representam a classe terem rejeitado a oferta.

O governador disse que a proposta já está no limite do que o estado pode oferecer.

O deputado estadual Soldado Noelio (Pros), que participou da negociação com o governo, diz que o projeto não satisfaz a categoria por não apresentar um plano de carreira para os policiais e bombeiros militares.

Segundo o governo, os policiais que participarem de protestos ou abandonarem o serviço serão excluídos da folha de pagamento. "Os comandos não irão tolerar atos de indisciplina e quebra de hierarquia", diz a nota do governo.

Camilo disse que pediu ao governo federal ajuda para o patrulhamento das cidades cearenses durante o motim de parte dos PMs.

O contato foi feito, segundo ele, com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos.

Em janeiro de 2019, durante ações de facções criminosas por todo o estado, o governo federal enviou agentes da Força Nacional para auxiliar no policiamento. ​

O Ministério da Justiça divulgou nota em que informa que está acompanhando a situação no Ceará e "analisando as providências que podem ser tomadas".

"Já foram enviadas equipes da Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal para Sobral para garantir a segurança do senador Cid Gomes", diz o comunicado.

Após Cid se licenciar em dezembro para cuidar das eleições municipais no Ceará, assumiu seu suplente Prisco Bezerra (PDT-CE).

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