Moro é 'vitima' de delações reais e não premiadas
A estratégia do governo, de levar para um escrutínio a participação de Sérgio Moro na Lava Jato e a importância das medidas adotadas contra a corrupção no País é grave sob vários aspectos: se colar, como querem os lavajistas, mostrará que o Brasil caminha para a desconstrução das instituições, notadamente do Poder Judiciário.
A Lei, dependendo ou não do que está escrito como regra, cederia lugar aos apupos ou aos aplausos das ruas. E isso é gravíssimo.
Ao aderir a essa ideia, Moro joga no lixo toda uma história de respeito à democracia, que ainda não se desfez, apesar dos evidentes erros cometidos na relações que mantinha com membros da Força Tarefa.
Para sair inteiro e respeitado dessa crise, Moro tem o dever moral de se afastar do Ministério da Justiça, até que investigações sobre o vazamento de chats privados entre ele e Deltan Martinazzo Dallagnol sejam concluídas. E pelo simples fato de que a Polícia Federal, encarregada de investigar os vazamentos e a veracidade dos textos já publicados é comandada por ele, e, portanto, recai sobre ela a suspeição sobre qualquer resultado que venha a ser apresentado.
CRASH INSTITUCIONAL
Moro ainda é a contraparte à fragilidade de um governo que se decompõe a cada dia, arrastado pela arrogância e destempero de seu chefe, em guerra aberta contra o Legislativo e o Judiciário.
Os erros e o descontrole entre seus filhos com ministros e assessores, e estes entre si, colocaram o país numa crise de fake news sem precedente..
Bolsonaro tenta impor ao Brasil um governo temerário, que ele pretende ‘armar’ com milícias para defendê-lo numa eventual crise e colocar em cheque as instituições democráticas.
Tudo isso nos coloca na iminência de um ‘crash institucional’ e nos transforma em cidadãos amedrontados diante de ministérios paralisados e uma nação cada vez mais sem rumo.
A queda de Moro, se ocorrer, pode gerar o ‘efeito dominó’ em Bolsonaro, o mito. As gravações hackeadas chegam a níveis cada vez mais ‘inconfessáveis’. Mas agora se tornam públicas e temerárias.
Mesmo no centro do pelourinho, Moro mantém viva a força-tarefa da Lava Jato. Só que os esqueletos são marionetes com a voz poderosa de delações reais e não premiadas.
ASSUNTOS: Bolsonaro, Lava Jato, lavajto, Moro, MPF, The Intercept Brasil
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.